sábado, 20 de março de 2010

Novidade - Lousa digital traz "o mundo" para a sala de aula, dizem professoras


20/03 - 08:00
Marina Morena Costa, iG São Paulo
Os paradigmas da sala de aula estão mudando. Em algumas escolas particulares de São Paulo, quadro-negro, giz e apagador são coisas do passado. Perderam lugar para a lousa digital – aparelho conectado a um computador que projeta imagens e permite ser comandado com a mão por meio da tecnologia touch screen (sensível ao toque). Além da facilidade tecnológica, os professores podem trabalhar com programas pedagógicos, exibir vídeos e acessar a internet. Tudo na lousa branca.

“É como se a gente saísse do isolamento da sala de aula e participasse do mundo”, define Camila Lenci Boccia Mazzanti, professora do ensino fundamental do colégio Santo Américo, que tem 25 salas equipadas com a lousa digital. “Se eu preciso de uma imagem para complementar a aula posso acessar a internet e mostrar para os alunos na hora. Quando surge uma dúvida, vamos pesquisar a resposta em fonte segura. Recentemente fizemos um trabalho de matemática sobre índice populacional. Acessei a página do IBGE e mostrei os dados para eles”, conta.

Adriana Elias  
Aluna do Dante escreve na lousa
Com as mãos ou uma caneta especial, professores e alunos escrevem na lousa, desenham formas geométricas, apagam, selecionam ferramentas e “mudam” a página – assim como em um programa de computador, é possível mexer na barra de rolagem e “subir” ou “descer” o texto. Também é possível salvar todas as alterações e gravar a aula em vídeo. “A professora não precisa mais apagar as coisas que ela escreve. É só mudar a página”, diz Hugo Marchi, de 9 anos, aluno do 5º ano do Santo Américo. “Antes a gente tinha que ver vídeos em outra sala. Agora pode ser aqui mesmo, na lousa”, comenta a colega de classe Isadora Monteiro, de 10 anos.
Escola x Tecnologia
Na avaliação de Maria Elizabeth Almeida, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e doutora em Educação, inserir a tecnologia na sala de aula permite integrar linguagens que fazem parte do cotidiano dos alunos. “É um avanço no sentido de criar a cultura digital na escola, porque a tecnologia fica disponível para uso no momento em que ela pode contribuir para a aprendizagem e o desenvolvimento do currículo”, avalia.
“A intenção da implantação da lousa é de que ela ajude o professor a fazer melhor as coisas que ele já fazia. É importante saber os objetivos pedagógicos, os recursos que a lousa tem e como fazer uma junção disso de forma que você tenha aulas mais interessantes, aprendizado mais efetivo, alunos mais críticos e professores mais antenados”, afirma Valdenice Minatel de Cerqueira, coordenadora de tecnologia educacional do colégio Dante Alighieri. Atualmente, a instituição possui 40 salas de aula equipadas com a lousa digital.

Adriana Elias
Aluna destaca palavras em texto projetado na lousa digital
Maior participação
Professores e educadores avaliam que a lousa digital aumenta a participação e o interesse dos alunos na aula. “Eles têm vontade de vir à lousa, mas para isso precisam ter segurança no conteúdo. A lousa capta a atenção e o interesse dos alunos e faz com que eles fiquem mais estimulados para trabalhar”, relata Mônica Bessa, professora do ensino fundamental do Dante Alighieri. “Estimula também aqueles que têm mais dificuldade, porque eles vão à lousa, participam mais e se integram melhor.”
Camila, professora do Santo Américo, lembra que logo após a instalação da lousa digital, em agosto do ano passado, os alunos ficaram eufóricos com a novidade. “No começo eles não entendiam, queriam usar a lousa o tempo inteiro. Mas nem sempre a gente precisa desse recurso. Tem também uma questão de iluminação, que precisa ser mais fraca, e não é compatível com a escrita”, explica a professora.

Marina Morena Costa  
Camila durante aula no Santo Américo
Para Camila, os alunos ficam mais atentos durante uma aula com recursos tecnológicos do que sem. “Eu como transmissora sou só uma pessoa, não tenho recursos audiovisuais completos, e acabo perdendo um pouco a atenção deles. O recurso digital combinado com o conteúdo do livro capta bem mais a atenção.” Tanta tecnologia significa investimento alto. O modelo Smart Board, adotado pelo Dante Alighieri, custa entre R$ 4 mil e R$ 10 mil por unidade, dependendo do tamanho e das funcionalidades. Já o Santo Américo, adquiriu lousas Hetch Tech por R$ 4 mil.
Professor
O papel do professor, que antes era o principal detentor do conhecimento, também passa por mudanças. “Está aparecendo um novo modelo de interação, não só professor-aluno, mas aluno-professor, porque eles contribuem muito”, destaca Valdenice, coordenadora de tecnologia do Dante Alighieri.
O colégio disponibiliza o software da lousa digital em sua intranet. Os alunos baixam em casa, exploraram os programas e acabam ensinando funções aos professores, segundo Valdenice. “Os nossos alunos são nativos digitais e nós somos imigrantes. Temos na escola professores com mais de 30 anos de magistério, então esses profissionais tiveram que se reinventar. É um desafio, mas ao mesmo tempo um privilégio”, define a coordenadora.
Maria Elizabeth Almeida, pesquisadora de novas tecnologias educacionais, avalia que as mudanças em sala de aula estão inseridas em um contexto maior. “Há um processo em andamento de mudança da sociedade impulsionado pela incorporação das tecnologias digitais a diferentes setores de atividades e ao cotidiano das pessoas. Isso provoca transformações nos modos de fazer, pensar, expressar, comunicar, produzir conhecimento e trabalhar em colaboração”, analisa.

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