domingo, 11 de agosto de 2013

DICAS PARA COMPOSIÇÕES COM ÁRVORES (José Rosário)

EDGAR WALTER - Estradinha das Paineiras
Óleo sobre tela, 38 x 46
Pensar em paisagem na pintura brasileira é pensar em
Edgar Walter. E pensar nele é lembrar imediatamente
dos muitos verdes de suas árvores e das belas
composições onde elas sempre estiveram presentes.

A paisagem é o tema preferido por grande parte dos iniciantes na arte de pintar. Um tema que, de aparência inicial simples, oferece enormes desafios, devido às inúmeras variações que podem existir em um simples trecho da composição. O desenho e a correta representação das árvores, é sem dúvida, o maior desafio na pintura de paisagens, e elas estão em quase todas as composições desse tema.

GIORGIONE - Moisés submetido a julgamento pelo fogo
Óleo sobre painel, 89 x 72.
Foi um dos pintores renascentistas que primeiro valorizou as árvores
em suas composições. Fez vários estudos e deu a elas um lugar de destaque.

JACOB VAN RUISDAEL - A garnde floresta
Óleo sobre tela, 139,5 x 179,5
Após a Reforma Protestante, muitos artistas do centro-norte europeu
trocaram as tradicionais cenas sacras por temas alternativos. Ruisdael soube como
ninguém, explorar tão bem as densas florestas de sua terra natal.

Foi no Renascimento, que a representação de árvores começou a ganhar destaque nas composições. Giorgione, um dos pintores daquela época que mais explorou o tema, tinha verdadeiro fascínio pelas árvores. Diversos estudos que ele fez, para aprofundar no tema, atestam a importância que esse artista deu às suas observações, para conseguir resultados satisfatórios. Também após a Reforma Protestante, muitos artistas do centro-norte europeu passaram a representar mais elementos da natureza em suas composições, dando bastante ênfase a paisagens e marinhas. No período do Romantismo, a paisagem ganha um novo destaque com belos e idílicos cenários compondo temas grandiosos. As árvores sempre se fizeram presentes durante o Naturalismo e o Impressionismo. Na Arte Moderna até os dias de hoje, elas ainda continuam dominando belas composições de paisagens.

GEORGE INNESS - Perugia 
Óleo sobre tela, 61,9 x 48

GEORGE INNESS - Manhã chegando
Óleo sobre tela, 81,9 x 106,7.
Inness , que inicialmente tinha uma representação bem acadêmica para as árvores,
 foi, ao longo de sua carreira diluindo cada vez mais as suas formas, até
deixa-las como simples massas de cor. Se perdeu em detalhes, ganhou em expressão.

Basta pegar um pequeno trecho de uma paisagem qualquer, e confirmar a infinita quantidade de vegetação contida nele, variando entre árvores, arbustos ou plantas rasteiras. E cada parte parece ter sua estrutura própria, contornos, volumes, desenho de galhos e folhagens, texturas diferenciadas nas cascas e cores próprias. O mais surpreendente é que, em meio a esse caos aparente, nenhuma se confunde com a outra. Muitas delas possuem uma densa copa, que cobrem de sombras grandes trechos da paisagem. Outras, já são cobertas com uma folhagem rala de pequenas folhas, por onde o sol atravessa criando surpreendentes e especiais efeitos. Os troncos podem ter texturas bem marcantes, como serem completamente lisos e esguios. Com um olhar mais atento, ainda é possível perceber entre eles, musgos, flores, cipós, frutos, ninhos de pássaros, brotos ainda por formar, como também galhos mortos e folhas secas. É essa imensa variedade e particularidades, que fazem das árvores um exercício fascinante para qualquer artista.

WILLIAM TROST RICHARDS - Dentro da mata
Óleo sobre tela, 40 x 51
Com um olhar acurado de quase botânico, Richards deixou
alguns trabalhos bem elaborados de plantas. A complexidade
de suas composições confirmam o quanto a persistência
e os objetivos são importantes na carreira de um artista.

ALBERT BIERSTADT - Moinho rústico
Óleo sobre tela, 109,84 x 148,03
Bierstadt e Richards faziam parte da Escola do Rio Hudson, um movimento
de artistas norte-americanos que se uniram em torno de um mesmo ideal,
divulgar em telas os cenários grandiosos do seu país. Muitos integrantes
desse grupo foram de grande importância para o registro de paisagens
ainda intactas do meio-oeste e oeste americanos.

Os animais possuem uma estrutura interna (ossos e órgãos) que sustenta o corpo, e que fica escondida pela estrutura externa (pele, cabelo, pêlos). Diferentemente dos animais, a estrutura que sustenta o corpo das árvores é visível, com apenas alguns trechos ocultos por folhagens. Essa estrutura (tronco e galhos) praticamente determina a forma da árvore, ficando para as folhas, características de cor e textura.


PEDER MORK MONSTED - Um dia de verão
Óleo sobre tela, 117,5 x 83,2 - 1905

Peder Mork Monsted tem como principais personagens de suas
composições as árvores. Retratou com precisão e desenvoltura
todos os possíveis ambientes com elas: matas fechadas, campos
abertos, cenas geladas e dias quentes de verão. Há em seu
trabalho um detalhamento apenas onde se faz necessário. O 
restante da composição se integra e se harmoniza com extrema
perfeição e bom gosto.

PEDER MORK MONSTED - Dia chuvoso de outubro
Óleo sobre tela, 89 x 121 - 1918

Algumas dicas que se seguem podem ajudar bastante nas composições que apresentem árvores:
1 . ESTRUTURA:
Não pense numa árvore com partes de suas estruturas isoladas, pense no conjunto de massas que fazem sua composição, evitando detalhar excessivamente. Interpretar o conjunto de massas que a compõe numa forma quase abstrata, procurando relacionar o desenho de sua estrutura com os volumes, poderá produzir resultados bem mais satisfatórios.


FOSTER CADDELL'S - Preston city
Óleo sobre tela - 61 x 76,2

Abrindo mão de detalhes excessivos em seus trabalhos,
Foster e Aspevig preferem explorar bem mais as massas
de cores que compõe as suas árvores. Numa visão mais
impressionista, as árvores ganham destaque em quase
todas as suas obras. 

CLYDE ASPEVIG - Outono dourado
Óleo sobre tela, 91,4 x 101,6

2 . SIMETRIA:
Na maioria das espécies de vegetais, observa-se uma certa simetria de um lado em relação ao outro, criada por um eixo imaginário que passa pela centro do tronco. A simetria nos vegetais tem muito a ver com sua sustentação e equilíbrio. Árvores menores que crescem próximas à grandes árvores já formadas, tendem a perder a simetria, tornando-se tortas e de formação irregular. Procurar equilibrar os lados de uma árvore em uma composição, demonstra o bom senso estético de quem executou. Mas, isso não é uma regra. Árvores com grandes assimetrias, quando bem enquadradas dentro de uma composição, podem produzir efeitos extraordinários.


JOSÉ ROSÁRIO - Vendedores de queijo
Óleo sobre tela, 60 x 80
Árvores assimétricas dão excelentes composições quando
enquadradas em cortes imprevisíveis.

ANDREW PETERS - Campo com pinheiros
Óleo sobre tela
Pinheiros são exemplos ótimos de árvores simétricas. Como são de estrutura
bem parecida, o segredo de representa-los em uma composição está
em organiza-los de maneira variada, colocando alguns mais
próximos e outros mais distantes, ganhando com isso
uma boa noção de profundidade.

3 . CORES:
Há um conceito, ainda de infância, que árvore deva ter tronco marrom e copa verde. Esqueça esse conceito e parta para a observação. Um grupo de árvores oferece uma gama enorme de misturas. Atente por perceber a grande variedade de cinzas neutros e luminosos que aparecem nos troncos. Observe como as folhas mais velhas tem o colorido bem diferente dos brotos novos. Faça uma comparação dos tons que consegue captar na sombra e sob o sol, e então verá como são ricas as misturas, principalmente no interior das copas.


ANDY THOMAS - Cores de outono
Óleo sobre tela
Cores variadas e bem equilibradas enriquecem qualquer composição.
Em benefício de uma boa cena, altere e acrescente formas e cores
que melhor expressem o objetivo do tema. A liberdade ainda
é o maior combustível para se fazer arte.

OSMAR DOS SANTOS SOARES - Estrada
Óleo sobre tela, 70 x 90

4 . TIPOS:
Enriqueça sua composição, variando os tipos de vegetação. No Brasil, um país predominantemente tropical, há uma variedade enorme de plantas em todas as regiões. Tire proveito dessa complexidade deixando suas composições menos monótonas e previsíveis. Em um dia de sol, saia com um caderno de rascunhos e faça vários esboços das árvores que encontrar pelo caminho. Irá se surpreender com o repertório vasto que encontrará.


CLÁUDIO VINÍCIUS - Rio Piabanha
Óleo sobre tela, 70 x 100

Quantas espécies podem ser colocadas numa única cena...
Aproveite a diversidade da flora brasileira e enriqueça
suas composições variando quantas espécies forem
possíveis. Palmeiras, bananeiras, jacarandás e flamboyants,
roseiras, eucaliptos e bambus... Não há limite para
a criação ao observar melhor o mundo a sua volta.

ANTONIO FERRIGNO - Caminho de terra
Óleo sobre madeira, 30,5 x 39


5 . MOVIMENTO:
Embora a observação de uma árvore isolada, pareça uma cena estática, isso tende a mudar completamente quando observadas em grupo. Vendo assim, tudo contribui para dinamizar o trabalho. Cores, formatos, jogos de luzes e contrastes criam relações bem interessantes entre si e transmitem movimento a todo conjunto. Pelo espaço e proporção que ocupam numa cena, as árvores se tornam excelentes componentes para expressar movimento. Muito mais importante que o movimento ação é o movimento ótico, a distribuição de cores e tons que conduzam o olhar a caminhar pela obra.
Em se tratando de movimento ação, nada melhor que observar com atenção a chegada de uma tempestade. O anteceder de uma tempestade desarruma a paisagem com grandes rajadas de vento, criando ótimos efeitos. Explorar com criatividade as condições meteorológicas, sempre será um ponto a favor de belos resultados em sua composição.


JOSÉ ROSÁRIO - Tempo incerto
Óleo sobre tela, 60 x 100
Como são os componentes de maior destaque nas paisagens,
as árvores são excelentes referências para  indicação de movimento
na composição. O aproximar de uma chuva desorganiza e
cria belos cenários.

WILLIAM ASHFORD - Rio Clodiagh perto da floresta de Charleville
Óleo sobre tela, 100 x 126
A organização das árvores e as linhas de convergência para o centro
da composição, deram a esse trabalho uma boa noção de movimento.
As cores também colaboraram com esse efeito.

6 . ESTAÇÕES DO ANO:
A vegetação em geral, é por si só, o componente que mais altera numa paisagem com o passar das estações. Faça uma comparação de árvores e arbustos próximos de sua casa, em diversas épocas do ano. Caso não tenha tempo para esboço ao ar livre, pelo menos fotografe, e então verá quão surpreendentes podem ser os resultados.


LAUREN S. HARRIS - Casas, Richmond Street
Óleo sobre tela, 76,2 x 81,2

É no outono que as árvores revelam com mais nitidez suas estruturas.
Os troncos e galhos expõe silhuetas que sempre oferecem boas composições.

JOHN ATKINSON GRIMSHAW - Amanhecer dourado
Óleo sobre tela, 50,8 x 76,2

7 . IMPORTÂNCIA DO ESBOÇO:
Independentemente do estilo ou técnica a se utilizar, os esboços são sempre uma arma poderosa para qualquer artista. Simplificar traços e captar a atmosfera em traços rápidos é uma atividade praticada há muitos anos, mesmo para os não praticantes da pintura em plain air.

VINCENT VAN GOGH - Pinheiros, estudo
Nanquim sobre papel, 62,3 x 46,8

A espontaneidade que nos salta aos olhos quando deparamos
com um trabalho de Van Gogh, sugere a execução de
um trabalho sem muitas preocupações acerca de técnicas e
distribuição de elementos. Muitos desenhos encontrados
depois de sua morte atestam exatamente o contrário. Ele
era preocupado com esboços e estudos que melhor
garantissem o resultado de seus trabalhos.

VINCENT VAN GOGH - Pinheiros
Óleo sobre tela, 93,3 x 74

8 . TRABALHANDO ETAPAS:
A sequência abaixo, realizada pelo artista baiano Dimas Mascarenhas exemplifica uma pintura de paisagem com árvores, realizada em várias etapas. O esboço ou desenho inicial apenas localiza e define áreas de sombra e luz. Até a última etapa, houve inteira liberdade em alterar no que fosse necessário para que a composição se tornasse equilibrada. Esse processo de pintura, geralmente desenvolvido em ateliê, usa como referência estudos captados ao ar livre, bem como fotografias e desenhos esquematizados.




9 . O PODER DOS ESTUDOS:
Pintar ao ar livre, no termo que os americanos denominaram plein air painting é um dos exercícios mais importantes para a captação original de uma cena. As condições locais quando extraídas ao natural, revelam espontaneidade e dinamismo perdidos numa sessão de ateliê. As árvores desenvolvidas nesses estudos ganham aspectos mais expressivos e treinam o olhar do artista, condicionando-os ao necessário para aquele momento.

MIAN SITU - Paisagem do oeste
Óleo sobre painel, 22,8 x 30,4

SCOTT BURDICK - Manhã na serra
Óleo sobre painel
AGRADECIMENTOS A ESTE EXCELENTE MESTRE!
POR PERMITIR A DIVULGAÇÃO AQUI NO MEU BLOG!
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